As Vantagens de Ser Invisível | Crítica - Omelete | Érico Borgo
Drama de amadurecimento emociona ao som do rock alternativo dos anos 80 e 90
Em seu segundo trabalho como diretor, Stephen Chbosky adapta seu próprio romance, As Vantagens de
Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, 2012).
O drama de amadurecimento acompanha um garoto de 15 anos,
Charlie (Logan Lerman, de Percy Jackson e o Ladrão de Raios), no momento de sua
entrada no colegial em Pittsburgh. Ele se recupera de uma depressão que lhe
rendeu tendências suicidas e perdeu recentemente seu único amigo. No colégio,
porém, começa sua jornada de socialização, de crescimento e recuperação com a
inadvertida ajuda de dois veteranos, Patrick (Ezra Miller, de Precisamos falar
sobre o Kevin) e Sam (Emma Watson, de Harry Potter), que o recebem em seu
mundinho à parte dos populares da escola
Ter Chbosky no comando da adaptação mantém a força do
material original. Ninguém entende e seu preocupa com os personagens mais que
seu autor, afinal - e ele valoriza cada momento de tela de todos eles. A
primeira aparição de Sam, por exemplo, é memorável e Emma Watson esvazia em
segundos qualquer resíduo de sua atuação como Hermione que possa teimar em
permanecer na mente depois de 10 anos vendo-a no papel da bruxinha. Ela está
adorável e sabe trabalhar toda a complicada bagagem da personagem.
Lerman e Miller também fazem bonito e suas sequências juntos
são excelentes. Enquanto o primeiro mostra que tem qualidade de atuação para
convencer nesse difícil papel, que requer enormes variações emocionais ao longo
do filme, o outro torna seu Patrick uma força magnética em tela.
Chbosky pode não ter muitos recursos como cineasta, mas a
história não pede mais do que o básico. Ainda que ele consiga algumas
sequências estéticamente belas, não é essa a necessidade do filme. São os
diálogos (e o que não precisa ser externalizado) que movem a adaptação - e ter
o criador desse mundo presente o tempo todo no set sem dúvida ajudou muito os
protagonistas e o elenco de apoio (especialmente os jovens), que também está
ótimo.
O cineasta também esta muito à vontande com relação à
música. As canções do filme estabelecem identidade aos personagens e ele abusa
de referências dos anos 80 e início dos 90. Ouvem-se Pavement, New Order, L7,
Cocteau Twins, Sonic Youth, The Smiths... que são colocadas ao lado da
clássica, "Heroes" (77), de David Bowie, que soa como o hino do
filme. A música toca em dois momentos importantes e serve para demonstrar a
sensação, hoje quase perdida, da descoberta sonora (ou qualquer outra). Afinal,
eram os anos 90, quando se você ouvisse uma música e não soubesse seu nome, não
adiantava cantarolá-la para o celular, pois o aparelho sequer existia ainda.
Você tinha que trabalhar pelos seus gostos e seu desenvolvimento cultural.
As Vantagens de Ser Invisível termina uma sensível história
de amizada, descobertas e amor idílico que faz pensar. A frase "Nós
aceitamos o amor que pensamos merecer", um dos motes do filme, sozinha,
rende algumas boas reflexões. A vibração pelas descobertas, a expectativa pelo
próximo "mistério", é igualmente emocionante.
Enfim, fica aqui uma constatação curiosa. Se ao menos os
produtores de Homem-Aranha tivesse assistido a este filme antes de realizarem o
novo longa do herói saberiam como poderia (ou deveria) ser retratado o Peter
Parker nas telas (obviamente, não me refiro aqui às tendências suicidas). E
pensar que Logan Lerman foi dispensado para o papel...
O filme estreia dia 27 de Setembro no EUA e 02 de Novembro no Brasil.
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